O trabalho e o sagrado:
práticas e crenças no Marketing Multinível
DOI:
https://doi.org/10.59776/rmx.v1i1.5961Resumo
A proposta desse trabalho é fundamentalmente compreender a reconstrução do “eu” a que os indivíduos são submetidos no contexto das redes de consultores de empresas que adotam o modelo de negócios conhecido como Marketing Multinível (MMN). Para atingir esses objetivos, a pesquisa de campo foi conduzida ao longo de vinte e dois meses, iniciando em outubro de 2018 e encerrando em julho de 2020. Durante esse período, observamos as práticas cotidianas e as reuniões dos consultores localizados na Região Metropolitana do Recife (RMR). Além disso, acompanhamos os eventos regionais e nacionais realizados pela empresa de MMN focada em nossa pesquisa. Nossa análise concentrou-se principalmente nas redes da Hinode, atualmente a empresa de Marketing Multinível mais proeminente no cenário brasileiro. A Hinode, especializada em produtos cosméticos, adotou desde sua fundação o modelo de venda direta, no qual um grupo de consultores associados é responsável pela distribuição e revenda dos produtos, recebendo uma porcentagem dos lucros obtidos. O que se destaca nesse contexto é a incorporação de elementos religiosos nas práticas e valores secularizados da Hinode. Isso difere do movimento contrário frequentemente analisado em estudos antropológicos. Nosso argumento se baseia na presença do que chamamos de “sagrado subsumido” nesse modelo de negócio. Esse conceito estabelece uma conexão entre a ideia de salvação da alma por meio da fé e conduta de vida específica e a salvação mundana alcançada por meio desse modelo de negócio. Apontamos, finalmente, como a experiência de inserção e vivência desses indivíduos nas redes de MMN é uma experiência totalizante, semelhante ao que se observa em muitos grupos declaradamente religiosos.