Sobre descolonizar os afetos: uma perspectiva crítica decolonial de Geni Núñez
NÚÑEZ, Geni. Descolonizando os afetos: experimentações sobre outras formas de amar. São Paulo: Planeta do Brasil, 2023. 192 p.
Resumo
Nos últimos anos, as buscas por termos como “não monogamia” têm crescido exponencialmente no Google, principal buscador on-line. Nos veículos de imprensa, matérias jornalísticas destacam que arranjos afetivos-sexuais não monogâmicos têm encontrado cada vez mais adeptos, especialmente entre os jovens. Seria essa, portanto, uma tendência nos dias de hoje? Segundo a ativista indígena brasileira Geni Núñez, em seu livro intitulado “Descolonizando afetos: experimentações sobre outras formas de amar” (2023) a pluralidade das formas de se organizar afetivamente já existia na cosmovisão dos povos originários. Desse modo, a não monogamia, não como a conhecemos hoje, já era uma realidade em Pindorama, hoje conhecida como as terras do Brasil, antes da chegada dos colonizadores portugueses em 1500.
Nesta obra, dividida em três partes, a autora revisita o processo pelo qual a monogamia se estabelece como uma monocultura dos afetos, em um movimento teórico-metodológico que, por um lado, visa a desconstrução do discurso da moral cristã castradora que ainda impera nos dias atuais e, por outro, num movimento de reafirmação cultural, epistêmica e social das tradições dos povos originários que desde a chegada dos invasores resistem à violência da catequese, ao racismo religioso e controle dos corpos.