Do cogito ao credo:
a filosofia de Gabriel Marcel como preambulum fidei
DOI:
https://doi.org/10.25244/tf.v13i3.1227Palavras-chave:
Gabriel Marcel. Filosofia do Mistério. Revelação. Fé.Resumo
Crer é o ato que expressa não apenas uma conclusão lógica de uma formulação, mas a adesão plena, consciente e livre da totalidade de nosso ser í quilo que nomeamos "Deus". Trata-se, pois, de um de um esforço humano, mas, igualmente, de um ato da graça. A fé é, portanto, relação profunda entre cogito e credo. Perceber o limite entre o que é possível conhecer e afirmar de Deus, a partir da razão - de modo específico desde a Filosofia do Mistério apresentada pelo filósofo cristão Gabriel Marcel (1889-1973) -, bem como compreender tal filosofia como preambulum fidei é o objetivo desse texto. Segundo Marcel, existe uma profunda diferença entre "eu penso" e "eu creio". O primeiro está na ordem do pensamento e o segundo, na ordem da fé. A ordem do pensamento tem como critério de subsistência o cogito; a ordem do credo tem como fundamento o amor. Quando queremos dizer a experiência religiosa a partir e exclusivamente do cogito, temos um ato que pensa a fé, o qual é diferente do ato de fé. Como, portanto, podemos dizer o mistério da fé? Como dizer a inteligibilidade da experiência religiosa? Eis aqui nossa hipótese: para o pensador francês, essa "porta de entrada", nomeada pela tradição de cogito, é falível e equivocada para essa questão. Se o dizer a inteligibilidade da experiência religiosa possui como critério único o cogito, estaremos dizendo apenas o que pensamos do mistério e não o mistério em si mesmo. "Dizer" o mistério não é conceitualizá-lo, mas, aproximarmo-nos dele e, a partir dele, plenificarmos o nosso próprio ser. Eis, portanto, a originalidade de Marcel: ter tentado, ao lado das virtudes teologais do cristianismo, incidir certa apreensão da transcendência como aparecido à pessoa, como transpessoal, como "Tu Absoluto".
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