A cidade como artefato trágico em Hécuba de Eurípides: individuação e responsabilidade no projeto socrático de filosofia
Palavras-chave:
Platão, Eurípides, Causa final, Responsabilidade, DestinaçãoResumo
Parto da noção de projeto filosófico para conferir unidade a uma leitura comparada dos diálogos socráticos e da tragediografia encenada em Atenas. Sócrates, apesar de não reivindicar um saber, ao opinar, marca posições políticas, as quais crê justificar. Ao ler Hécuba percebi um esquema similar ao do Fédon: apologia da protagonista, clímax e resolução. Sócrates, como Polixena, se dirige voluntariamente para o sacrifício que uma maioria, da qual não participa, lhe impõe. Ambos se investem do heroico, conduta compatível com o estimado melhor caráter. Platão aceita como Eurípides que a cidade seja responsável pelos males que sobre ela se abatem. Discorda, porém, que os deuses sejam causa disto e se afasta da crença na impossibilidade de autonomia, para ele política, do humano face à vida e deuses. Contra a concepção de uma destinação trágica, o ateniense propõe uma filosofia política, em que cidade e cidadão são vistos um em função do outro. Uma vez que não se instauram em nós por natureza, é decisivo que o cidadão seja educado a buscar a excelência que gera a política, sem a qual é impossível pensar o limite, a medida e a responsabilidade da ação que cabe ao coletivo e a cada um.
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