A cidade como artefato trágico em Hécuba de Eurípides: individuação e responsabilidade no projeto socrático de filosofia

Autores

  • Francisco de Assis Vale Cavalcante Filho UFPB

Palavras-chave:

Platão, Eurípides, Causa final, Responsabilidade, Destinação

Resumo

Parto da noção de projeto filosófico para conferir unidade a uma leitura comparada dos diálogos socráticos e da tragediografia encenada em Atenas. Sócrates, apesar de não reivindicar um saber, ao opinar, marca posições políticas, as quais crê justificar. Ao ler Hécuba percebi um esquema similar ao do Fédon: apologia da protagonista, clímax e resolução. Sócrates, como Polixena, se dirige voluntariamente para o sacrifício que uma maioria, da qual não participa, lhe impõe. Ambos se investem do heroico, conduta compatível com o estimado melhor caráter. Platão aceita como Eurípides que a cidade seja responsável pelos males que sobre ela se abatem. Discorda, porém, que os deuses sejam causa disto e se afasta da crença na impossibilidade de autonomia, para ele política, do humano face à vida e deuses. Contra a concepção de uma destinação trágica, o ateniense propõe uma filosofia política, em que cidade e cidadão são vistos um em função do outro. Uma vez que não se instauram em nós por natureza, é decisivo que o cidadão seja educado a buscar a excelência que gera a política, sem a qual é impossível pensar o limite, a medida e a responsabilidade da ação que cabe ao coletivo e a cada um.

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Biografia do Autor

Francisco de Assis Vale Cavalcante Filho, UFPB

Leciona atualmente disciplinas de História de Filosofia Antiga no departamento de Filosofia da Universidade Federal da Paraíba. Doutor em Filosofia, defendeu a tese sobre "Os Problemas da Opinião Falsa e da Predicação no diálogo Sofista de Platão" pelo Programa Integrado de Doutorado em Filosofia - PIDFIL (UFRN/UFPB/UFPE/2013). Mestre em Filosofia (UFPB/2008), sua dissertação intitulada "O problema do não-ser no Sofista de Platão" e sua tese de doutorado foram ambas aprovadas com distinção. Bacharel em Ciências Sociais (UFPB/2006), realizou pesquisa junto ao CNPQ (PIBIC) nas áreas de Sociologia e Antropologia (2003/2005).

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Publicado

2024-12-30

Como Citar

CAVALCANTE FILHO, F. de A. V. A cidade como artefato trágico em Hécuba de Eurípides: individuação e responsabilidade no projeto socrático de filosofia. Trilhas Filosóficas, [S. l.], v. 17, n. 1, p. 45–64, 2024. Disponível em: https://periodicos.apps.uern.br/index.php/RTF/article/view/6183. Acesso em: 20 jan. 2025.

Edição

Seção

DOSSIÊ FILOSOFIA E LITERATURA (v.17, n.1, 2024)