GEOLOGIA DOS LUGARES SAGRADOS DOS POVOS UMÜKORI MAHSÃ (DESANA) E YEPAMAHSÃ (TUKANO) EM SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AMAZONAS, BRASIL

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33237/2236-255X.2024.6011

Palavras-chave:

Geodiversidade, Cosmologia indígena, Yepamahsã, Umokori Mahsã

Resumo

O estudo destaca a crescente relevância dos Sítios Naturais Sagrados (SNSs) nas políticas públicas brasileiras, enfatizando sua importância cultural, biológica e geológica consagrada por povos nativos ao longo da história. Reconhecendo a vitalidade dessas áreas como estratégias de proteção ambiental, adotou-se uma abordagem participativa interligando conhecimentos antropológicos, arqueológicos e geológicos. O objetivo da pesquisa foi reconhecer a correlação entre elementos geológicos/geomorfológicos e a cosmovisão indígena em SNSs de São Gabriel da Cachoeira (Amazonas/Brasil) por meio de diálogos e trocas que registrem a memória dessas comunidades indígenas. Dados sobre aspectos geológicos foram obtidos por meio de informações bibliográficas e trabalhos de campo, enquanto os relatos sobre os lugares sagrados foram extraídos de narrativas míticas, conhecidas como Kihti ukuse, descritas por especialistas indígenas do Alto Rio Negro (Amazonas/Brasil). O estudo utiliza o livro "Mitologia Sagrada dos Desana-Wari Dihputiro Põrã" e as obras do artista plástico Feliciano Lana como referência mitológica Desana. A análise das narrativas revelou a interconexão entre a cosmologia indígena e a geodiversidade local, destacando a importância das narrativas na cultura indígena e em seus locais sagrados, incluindo descrições de elementos como a "Cobra Traíra" e as constelações no calendário indígena (yõkoãpa ma’a). Conclui-se que a abordagem proporciona acesso às narrativas indígenas, incorporando estratégias de geoconservação para salvaguardar o patrimônio geocultural dos povos indígenas do Alto Rio Negro e promover a conservação e preservação sustentável dessas áreas de significância cultural e ambiental.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Cisnea Menezes Basilio, Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

É Especialista em Auditoria e Pericia Ambiental (2019). Possui Bacharelado em Geologia pela UFAM (2013). Curso de atualização sobre Processo Administrativo Minerário ANM e Projetos Técnicos da Mineração pelo Instituto Minere (2019). Membro colaboradora no projeto intitulado Pelos Caminhos da Canoa de transformação ao Etnogeoturismo em São Gabriel da Cachoeira -AM pelo PAINTER/FAPEAM 2020. Participou como membro avaliadora de 07 projetos de extensão do curso de Arqueologia da UEA/CESSGC (2020). Membro do grupo de pesquisa Grupo de Estudos de Geociências e Meio Ambiente Amazônico Sustentável-UFAM. Atuou no cargo de Coordenadora de Planejamento da prefeitura de São Gabriel da Cachoeira -AM, onde assessorava o Departamento de Pequena Mineração Responsável na coordenação de projetos que visam o protagonismo indígena, a exemplo do PARMARN Programa Municipal de Aproveitamento dos Recursos Minerais do Alto Rio Negro (2018-2020). Coordenadora do NIFFAM/SECTI/SEDECTI Ações Alto Rio Negro. Coautora do Documento Mineração em Terras Indígenas: Um Posicionamento Necessário pela FEBRAGEO (12/2020).

Raimundo Humberto Cavalcante Lima , Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Geólogo formado pela Universidade Federal do Ceará com Pós doutorado pela Universidade de São Paulo na temática Geoconservação. Doutor em Geologia Regional na UNESP/Rio Claro (SP) com período de doutorado sanduíche (PDEE-CAPES) na Universidade de Aveiro e no Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro - CTCV em Coimbra (PT). Mestre em Geociências pela Universidade Estadual Paulista - IGCE - UNESP. Professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Experiência adquirida em Pesquisa e mapeamento de matérias-primas industriais e agrominerais, além de caracterização e preparação de massas para confecção de produtos cerâmicos. Orientador do Programa de Pós graduação em geociências da (PPGGEO) UFAM com atuação nas seguintes linhas: Geoconservação/ Patrimônio Geológico e Serviços ecossistêmicos com foco na geodiversidade. Membro do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo (NAP - GeoHereditas) e membro da diretoria executiva da Associação Brasileira de Defesa do Patrimônio Geológico e Mineiro (AGeoBR) Biênio 2023-2025.

Referências

ANDRELLO, G. Rotas de criação e transformação: narrativas de origem dos povos indígenas do Rio Negro/Organização Geraldo Andrello. -São Paulo: Instituto Socioambiental; São Gabriel da Cachoeira, AM: FOIRN - Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, 2012.

AZEVEDO, D. L. Agenciamento do mundo pelos Kumuã Ye’pamahsã: o conjunto dos Bahsese na organização do espaço Di’ta Nuhku = Yepamahsã mahsise, tʉoñase bahsesepʉ sañase nisé mahsiõri turi ni a´ti pati Di´ta Nʉhkʉ kahãsere. / Dagoberto Lima Azevedo. – Manaus: EDUA, 2018. 270 p.: il.; 21 cm. – (Coleção Reflexividades Indígenas).

BARRETO, J.P.L. et al. Omerõ: Constituição e circulação de conhecimento Yepamahsã (Tukano). Universidade Federal do Amazonas. Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI): EDUA, 192p.: il. color. Manaus, 2018.

CAJET, G. Native Science: Natural Laws of Interdependence. Santa Fe, NM: Clear Light Publishers, 2000. 219p.

Coleção Narradores Indígenas do Rio Negro. Oito volumes publicados entre 1995 e 2006. São Gabriel da Cachoeira/São Paulo: Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN)/Instituto Socioambiental (ISA).

CONFERÊNCIA GERAL UNESCO. Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural. Artigo 2. Paris, 17 de outubro a 21 de novembro de 1972.

CPRM. 2006. Geologia e Recursos Minerais do Estado do Amazonas. Reis N.J, Almeida M.E, Riker S.R.L, Ferreira A.L.F. (orgs) Escala 1:1.000.000., Manaus: (Convênio CPRM/CIAMA), 180p.,Il.: mapas.

DANTAS, M. E., MAIA, M. A. M. 2010. Compartimentação geomorfológica. In: MAIA, M. A.M. & MARMOS, J.L (org). Geodiversidade do Estado do Amazonas. Manaus. CPRM. 275p.

DIAKURU & KISIBI. A mitologia sagrada dos antigos Desana do grupo Wari Dihputiro Põrã. Coleção de Narradores Indígenas do Rio Negro. São Gabriel da Cachoeira: FOIRN/ISA, 1996.

FERNANDES-PINTO, E.; IRVING, M.A. Sítios Naturais Sagrados no Brasil: o gigante desconhecido. In: HANAZAKI, N., et al. (Orgs.). Culturas e Biodiversidade: o presente que temos e o futuro que queremos. Anais do Seminário Brasileiro sobre Áreas Protegidas e Inclusão Social, 7; Encontro Latino Americano sobre Áreas Protegidas e Inclusão Social, 2, Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, novembro de 2015. p. 397- 408. Disponível em http://sapiselapis2015.paginas.ufsc.br/anais.

FEDERAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DO RIO NEGRO. foirn: FOIRN, a federação que representa 23 povos indígenas no Brasil, 2019. Disponível em: <https://foirn.org.br/>. Acesso em: 03 de maio de 2023.

FRANCO, E. M. S.; DEL’ARCO, J. O. E.; RIVETTI, M. Geomorfologia da folha NA.20 Boa Vista e parte das folhas NA.21 Tumucumaque, NB.20 Roraima e NB.21. In: Brasil. Projeto RADAMBRASIL. Rio de Janeiro: DNPM, v.8, p.139- 180, 1975.

GRAY, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. 1 ed. Chichester: John Wiley and Sons, 2004. 434p.

GRAY, M. et al. European Union Soil Thematic Strategy: Geodiversity and Geoheritage as features of Soil Protection. Advice on behalf of the European Federation of Geologists to the Working Groups – Towards a Thematic Strategy for Soil Protection. s.l., s.n., 2004.

INSTITUTO BRASILEIRO DE CARTOGRÁFIA E ESTATÍSTICA, 2023. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/am/sao-gabriel-da-cachoeira/panorama. Acesso: 23 de novembro de 2023

JAENISCH, D.B. Política brasileira de patrimônio imaterial: apontamentos sobre o registro e salvaguarda de dois bens culturais indígenas. Mouseion, No. 10, 12 p. 2011.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL - IPHAN. Cachoeira de Iauaretê: lugar sagrado dos povos indígenas dos Rios Uaupés e Papuri (AM). Dossiê IPHAN 7, 2008.

GERMAN, L. Formas Tradicionais de Exploração e Conservação das Florestas. In: VARELLA, D; DALY, C. D.; ZEIDEMANN, K. V; OLIVEIRA, A. A; MORI, A.S; VICENTINI, A. Florestas do Rio Negro. Ed., Companhia das Letras, Universidade Paulista, The New York Botanical Garden. 2001, Cap. 7.

KEHÍRI & TÕRÃMU. Antes o mundo não existia: mitologia dos antigos Desana-Kehíripõrã. –2. ed.—São João Batista do Rio Tiquié: UNIRT; São Gabriel da Cachoeira: Foirn, 1995.

KOCH-GRUNBERG, T. Dois Anos Entre Os Indígenas: Viagens Ao Noroeste Do Brasil. Manaus, Edua- Fsdb. Sudamerikanische Felszeichnungen. Verlegt Bei Ernst Wasmuth A.- G. Berlin, 2005a [1905-1907].

KOCH-GRÜNBERG, T. (2010) [1907]. Petróglifos sul-americanos. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi; São Paulo: Instituto Socioambiental.

MENDES DOS SANTOS, G. Coleção Reflexividades Indígenas. Nota Introdutória. Manaus: EDUA, 2018.

MURRAY, J. Of pipestone, thunderbird nests, and ilmenite: ethnogeology, myth, and the rename of a world: Geological Society of America Abstracts with Programs, v. 28, p. 34, 1996.

MURRAY, J. Etnogeologia e suas implicações para o currículo de geociências aborígene: Journal of Geoscience Education,1997, v. 45, p. 117-121.

NEVES, E G. Paths in Dark Waters: Archaeology as Indigenous History in the Upper Rio Negro Basin, Northwest Amazon. Departament of Anthropology, Indiana University, 1988.

PINHEIRO, S. da S.; FERNANDES, P.E.C.A.; PEREIRA, E.R.; VASCONCELOS, E.G.; PINTO, A. do C.; MONTALVO R.M.G. de.; ISSLER, R, S.; DALL’AGNOL, R.; TEIXEIRA, W.; FERNANDES, C.A.C. In: Brasil, DNPM. Projeto RADAMBRASIL. Cap.I – Geologia. Rio de janeiro. (Levantamento de Recursos Naturais, 11), 1976.

SANTOS, J.O.S.; HARTMAN, L.A.; GAUDETTE, H.E.; GROVES, D.I.; MCNAUGTHON, N.J. & FLETCHER, I.R. A new understanding of the Provinces of the Amazon Craton based on integration of field mapping and U–Pb and Sm-Nd geochronology. Gondwana Research,3:453-488. 2000.

SANTOS, J.O.S. Geotectônica dos escudos das Guianas e Brasil-Central. In: Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil: Texto, mapas & SIG/organizadores, BIZZI. L.A.; SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R.M.; GONÇALVES, E.J.H. Brasília, CPRM – Serviço Geológico do Brasil, 2003.

SANTOS, J.O.S., HARTMANN, L.A., FARIA, M.S.G., RIKER, S.R.L., SOUZA, M.M. & ALMEIDA, M.E. A Compartimentação do Cráton Amazonas em Províncias: Avanços ocorridos no período 2002– 2006. In: Simp. Geol. Amaz., 9, Belém, Sociedade Brasileira de Geologia. [CD-ROM], 2006.

SCOLFARO, A.; Geografia indígena e lugares sagrados no rio Negro: Instituto Socioambiental (ISA), Revista de antropologia da UFSCar, p. 229-257, 2014.

SILVA, J.V.M; MOURA FÉ, M.M. Geocultura: A relação da geodiversidade com a cultura no “território GEOPARK Araripe”. Anais: Geodiversidade e Patrimônio Geomorfológico. XII SINAGEO – Simpósio Nacional de Geomorfologia, Crato/CE, 2018.

SOUZA, A.G.H. Petrografia e geoquímica do batólito granítico São Gabriel da Cachoeira, Província Rio Negro (AM). Universidade Federal do Amazonas, Dissertação de mestrado, 2009.

STRADELLI, E. Iscrizioni indigene della regione dell’Uaupés. Boll. Soc. Geogr.Ital. V.1, n.37, P.457-83, 1900.

THORLEY, A., GUNN, C. M. Sacred Sites: an overview. The Gaia Foundation. 2007.

VALLE, R.; COSTA, F. (2008). Reconhecimento arqueológico preliminar no alto rio Negro. Manaus: PAC-MAE-USP, Foirn, Inpa.

VALLE, RB.M. Mentes Graníticas e Mentes Areníticas: Fronteira Geo-cognitivas nas gravuras rupestres do baixo Rio Negro, Amazônia Setentrional. Tese de Doutorado em Arqueologia, Universidade de São Paulo, Vol.1. São Paulo, 2012.

VERSCHUUREN, B., et al. Sacred natural sites conserving nature and culture. Earthscan. 2010.

VIVEIROS DE CASTRO, E. Cosmological deixis and ameridian perspectivism. The Journal of the Royal Anthropological Institute, n. 4/3, p. 469-488, 1998.

WILD, R.; MCLEOD, C. Sitios Sagrados Naturales: Directrices para Administradores de Áreas Protegidas. Gland, Suíça: IUCN. Série Buenas Prácticas en Áreas Protegidas n. 16. 2008.

Publicado

10-06-2024

Como Citar

BASILIO, C. M. .; LIMA , R. H. C. GEOLOGIA DOS LUGARES SAGRADOS DOS POVOS UMÜKORI MAHSÃ (DESANA) E YEPAMAHSÃ (TUKANO) EM SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AMAZONAS, BRASIL. Revista Geotemas, Pau dos Ferros, v. 14, n. 1, p. e02413, 2024. DOI: 10.33237/2236-255X.2024.6011. Disponível em: https://periodicos.apps.uern.br/index.php/GEOTemas/article/view/6011. Acesso em: 10 out. 2024.

Edição

Seção

Artigos