MUDANÇAS CLIMÁTICAS, CAPACIDADE ADAPTATIVA E SUSTENTABILIDADE: REFLEXÕES A PARTIR DAS CIDADES DA REGIÕES SEMIÁRIDA BRASILEIRA
DOI:
https://doi.org/10.33237/2236-255X.2021.3175Palavras-chave:
Agenda 2030, Ordenamento territorial, Energias renováveis, Semiárido brasileiro, Capacidade adaptativa climáticaResumo
As mudanças climáticas são uma grande, se não a maior, problemática socioambiental contemporânea, impactando, em especial, as populações e os territórios que estão em condição de vulnerabilidade, como é o caso daqueles que vivem na região semiárida do Brasil. Nesse sentido, objetiva-se, com este artigo, refletir sobre os desafios impostos pelas mudanças climáticas no semiárido brasileiro, de modo a analisar quais os caminhos que as cidades desse território têm adotado na construção e efetivação da capacidade adaptativa climática como estratégia de sustentabilidade. Para isso, a metodologia deste artigo segue as orientações de uma abordagem de natureza qualitativa, fazendo uso de pesquisas bibliográficas e documental, e coleta de dados secundários enquanto instrumentos de pesquisa. A partir da análise e discussão dos resultados, observa-se que enfrentar os efeitos das mudanças climáticas no semiárido do Brasil é ainda um grande e complexo desafio para as cidades desse território. Muito embora contem com as energias renováveis (eólica e solar, por exemplo) como grandes potencializadores para enfrentar as mudanças climáticas locais, essas cidades não apresentam a adaptação climática estratégia de gestão urbana e ambiental. Dessa forma, pode-se concluir que a construção e efetivação da capacidade adaptativa climática como alternativa no alcance de um futuro sustentável ainda está longe de se configurar como agenda estratégica das gestões urbanas e ambientais das cidades do semiárido brasileiro, sobretudo no atual contexto em que se vivencia uma marginalização das questões ambientais e climáticas na agenda governamental federal.
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