"Conduzir pela mão" e o ensino-aprendizagem de filosofia

uma perspectiva a partir de Nicolau de Cusa (1401-1464)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25244/tf.v12i1.27

Palavras-chave:

Manuductio, Transsumptio, Sí­mbolo, Ensino-Aprendizagem, Filosofia

Resumo

Resumo: A pesquisa propõe seguir a via simbólica do pensamento de Nicolau de Cusa (1401-1464) e pensá-la como um caminho para o ensino-aprendizagem da filosofia. Para tanto, toma como impulso a sugestão que o Cardeal de Cusa deixa na sua obra De coniecturis (Parte I, n. 4): "É oportuno atrair, em certo sentido guiando-os pela mão, os mais jovens, privados da luz da experiência, à manifestação do que se oculta, de tal maneira que possam elevar-se gradualmente ao que é mais ignorado". A "condução" cusana será pela via dos sí­mbolos e a pesquisa se concentrará, principalmente, sobre duas obras em que a "condução pela mão" aparece: o Livro I do De docta ignorantia e partes do De visione dei. Tanto na primeira quanto na segunda obra o "procedimento" para se conhecer o "mais ignorado" é basicamente o mesmo, embora os sí­mbolos utilizados na "condução" sejam diferentes: a matemática na primeira obra e na segunda um quadro pintado ou o í­cone de Deus. Inicialmente, a pesquisa entende que cabe ao professor-filósofo "atrair" e "guiar pela mão" os mais jovens para a filosofia. Depois, apresenta a perspectiva de Nicolau de Cusa sobre o "conduzir pela mão" confrontando-o com as crí­ticas de Jacques Rancière, em O mestre ignorante, a "condução" socrática. Em seguida, busca explicitar o conceito de "douta ignorância" em Nicolau de Cusa para depois explicitar a "condução pela mão" em A douta ignorância e em A visão de Deus. Por fim, embora considere que talvez Nicolau não seja "o mestre ignorante" de Rancière, considera também que a partir da filosofia cusana, pode-se pensar um caminho para o ensino da filosofia que não seja mera transmissão, mas um exercí­cio de aprendizagem por parte do aluno.

Palavras-chave: Manuductio. Transsumptio. Sí­mbolo. Ensino-Aprendizagem. Filosofia.

Abstract: The enquiry proposes to follow the symbolic path of the thought of Nicholas of Cusa (1401-1464) and to think of it as a way for the teaching and learning of philosophy. For this purpose it takes impulse in the suggestion made by the Cardinal of Cusa in his work De coniecturis (Part I, n. 4): "It is useful to attract, in a sense leading them by hand, the younger, deprived from the light of experience, to the manifestation of what is hidden, in such a way that they can gradually rise toward what is most ignored". The Cusanus' "lead" shall be through the path of the symbols, and the research will focus, mainly, on two works in which the "leading by hand" theme appears: Book I of De docta ignorantia and some parts of De visione dei. Both in the former and the latter the "procedure" to cognize the "most ignored" is basically tge same, although the symbols deployed in the "leading" are different: mathematics in the former and, in the latter, a painted picture or God's icon. Initially, the enquiry assumes the understanding that it is up to the teacher-philosopher to "attract" and "guide by the hand" the younger to philosophy. Later on, it presents Nicholas of Cusa's perspective on the "leading by hand" in confrontation with the criticisms issued by Jacques Rancière, in The Ignorant Schoolmaster, to the Socratic "lead". Then, the concept of "learned ignorance" in Nicholas of Cusa is to be made explicit in order to make thenceforth explicit the doctrine of "leading by hand" in On Learned Ignorance and The Vision of God. Finally, although considering that perhaps Nicholas is not Rancière's "learned schoolmaster", it is also comsidered that, departing from the philosophy of the Cusanus, a way of teaching philosophy can be thought that is not sheer transmission, but rather an exercise of learning by the student.

Keywords: Manuductio. Transsumptio. Symbol. Teaching and Learning. Philosophy.

 

REFERÊNCIAS

ANDRÉ, João Maria. Sentido, Simbolismo e Interpretação no Discurso Filosófico de Nicolau de Cusa. Coimbra, 1997.

ANDRÉ, João Maria. Coincidentia oppositorum: concórdia e o sentido existencial da transsumptio em Nicolas de Cusa. In: ANDRÉ, João Maria; ÁLVAREZ GÓMEZ, Mariano. (Org.). Coincidência dos opostos e concórdia: caminhos do pensamento em Nicolau de Cusa. Actas do Congresso Internacional realizado em Coimbra e Salamanca nos dias 5 a 9 de Novembro de 2001. Tomo I. Coimbra: Faculdade de Letras, 2001. p. 213-243.

ANDRÉ, João Maria. Introdução. In. NICOLAU DE CUSA. A douta ignorância. Tradução, introdução e notas de João Maria André. Lisboa/Portugal: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

ANDRÉ, João Maria. Introdução. In. NICOLAU DE CUSA. A visão de Deus. Tradução e introdução de João Maria André; prefácio de Miguel Baptista Pereira. 4ª Edição Revista. Lisboa/Portugal: Fundação Calouste Gulbenkian, 2012, p. 79-131.

BOAVIDA, João. Por uma didática para a filosofia – análise de algumas razões. Revista Filosófica de Coimbra – nº 9 (1996), p. 091-110.

BOMBASSARO, Luiz Carlos. IMAGEM E CONCEITO: a metáfora da caça na filosofia da renascença. Rev. Filos. Aurora, v. 19, n. 24, p. 11-33, jan./jun. 2007. Disponí­vel em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/aurora/article/view/2170/2089. Acesso em: 06 de junho de 2019.

CARVALHO, Marcelo; CORNELLI, Gabriele. Ensinar Filosofia (Volume 2). Cuiabá, MT: Central do Texto, 2013.

CERLETTI, Alejandro. O ensino de filosofia como problema filosófico. Tradução de Ingrid Muller Xavier. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.

D"™AMICO, Claudia. El idiota de Nicolás de Cusa: Acerca de la posibilidad de un saber ignorante. Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação – RESAFE, Brasí­lia, p. 111-117, n. 11, nov./abr. 2008.

FAVARETTO, Celso F. Sobre o ensino de filosofia. R. Fac. Educ., São Paulo, v. 19, n. 1, p. 97-102, jan./jun. 1993.

GALLO, S.; KOHAN, W. Crí­tica de alguns lugares-comuns ao se pensar a Filosofia no Ensino Médio. In: GALLO, S.; KOHAN, W. (Org.). Filosofia no Ensino Médio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000, p. 174-196.

GALLO, Silvio. O ensino da filosofia e o pensamento conceitual. In: CARVALHO, Marcelo; CORNELLI, Gabriele. Filosofia e Formação (Volume 1). Cuiabá, MT: Central do Texto, 2013, p. 204-215.

GELAMO, R. P. O ensino da filosofia no limiar da contemporaneidade: o que faz o filósofo quando seu ofí­cio é ser professor de filosofia? São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.

GUENDELMAN, Constanza Kaliks. Desejo e percurso na construção do conhecimento: aspectos pedagógicos na obra de Nicolau de Cusa. São Paulo: FEUSP, 2014. 216 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

GHISALBERTI, Alessandro. As raí­zes medievais do pensamento moderno. Tradução Sivar Hoeppner Ferreira. 2ª Ed. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência "Raimundo Lúlio" (Ramon Llull), 2011.

HADOT, Pierre. Exercí­cios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flavio Fontenelle Loque e Loraine Oliveira. São Paulo: É realizações, 2014.

HEIDEGGER, Martin. O que é isto – A filosofia? In: HEIDEGGER, Martin. Que é isto – A filosofia: Identidade e diferença. Petrópolis, RJ: Vozes; São Paulo: Livraria Duas Cidades, 2006, p. 13-34.

KOHAN, Walter Omar. Três lições sobre filosofia da educação. Educ. Soc., Campinas, vol. 24, n. 82, p. 221-228, abril 2003 Disponí­vel em http://www.cedes.unicamp.br.

KOHAN, Walter Omar. Sócrates & a Educação. O enigma da filosofia. Tradução Ingrid Müller Xavier. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

KOHAN, Walter Omar. Como ensinar que é preciso aprender? Filosofia: uma oficina de pensamento. In: CARVALHO, Marcelo; CORNELLI, Gabriele. Ensinar Filosofia (Volume 2). Cuiabá, MT: Central do Texto, 2013, p. 75-83.

NICOLAI DE CUSA. De coniecturis. Texto latino disponí­vel em: http://www.cusanus-portal.de/. Acesso em 04 de agosto de 2019.

NICOLAU DE CUSA. A douta ignorância. Tradução, introdução e notas de João Maria André. Lisboa/Portugal: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

NICOLAU DE CUSA. A visão de Deus. Tradução e introdução de João Maria André; prefácio de Miguel Baptista Pereira. 3ª Edição Revista. Lisboa/Portugal: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

NICOLAU DE CUSA. O não-outro – De non aliud. Edição bilí­ngue latim-português. Introdução, tradução e notas por João Maria André. Porto, Portugal: Edições Afrontamento, 2012.

NICOLAUS CUSANUS. Lettera a Nicolò Albergati. In: MORRA, Gianfranco (A cura di). Nicolò Cusano. La vita e la morte. Forli, It: Ethica 5, 1966, p. 55-98.

NOGUEIRA, Maria Simone Marinho. Conhecer e amar na Carta a Albergati de Nicolau de Cusa. Revista Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v. 5, n. 1, jul-dez., 2011.

RAMOS, Daniel Rodrigue. A aprendizagem da filosofia e a impossibilidade de ensinar filosofia. Revista portuguesa de educação, 31 (2), pp. 37-53.

RANCIÈRE, Jacque. O mestre ignorante: Cinco lições sobre a emancipação intelectual. Trad. Lilian do Valle. 3ª Edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

SANTINELLO, Giovanni. Introduzione a Niccolò Cusano. 2ª Edizione con aggiornamento bibliografico. Roma-Bari/Italia: Laterza, 1987.

SANTINELLO, Giovanni. L"™uomo "žad imaginem et similitudinem" nel Cusano. Estrato da Doctor Seraphicus. Nº XXXVII, Marzo 1990, p. 85-97 – Bollettino d"™informazioni del Centro di studi Bonaventuriani – Bognoregio (Viterbo).

SANTOS, Boaventura Souza. A filosofia à venda, a douta ignorância e a aposta de Pascal. Revista Crí­tica de Ciências Sociais, 80, Março 2008: 11-43

SOUZA, Klédson Tiago Alves de; TEIXEIRA NETO, José. A transsumptio e o uso de enigmas como "saí­da" para um discurso sobre o divino em De docta ignorantia (1440) de Nicolau de Cusa. Princí­pios: Revista de Filosofia, Natal, v. 24, n. 43, jan.-abr. 2017.

SVERSUTTI, William Davidans. Infinitas finiens e infinitas finibilis: a infinidade de deus e do universo no De principio de Nicolau de Cusa. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Maringá, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Departamento de Filosofia, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, 2019.

TEIXEIRA NETO, José. Nexus: da relacionalidade do princí­pio à metafí­sica do inominável em Nicolau de Cusa. Natal: EDUFRN, 2017.

TOMAZETTI, Elisete M. Formação de Professor de Filosofia para o Ensino Médio: entre polí­ticas e práticas, entre universidade e escola. In: MATOS, Junot Cornélio; COSTA, Marcos Roberto Nunes. Ensino de Filosofia: questões fundamentais. Recife: Ed. Universitária UFPE, 2014, p. 31-42.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

José Teixeira Neto, UERN

Professor Adjunto IV, com dedicação exclusiva, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN, Curso de Filosofia do Campus Caicó-CaC. Professor e Coordenador do Mestrado Profissional em Filosofia - PROF-FILO; Vice-lí­der do Grupo de Pesquisa Ensinar e Aprender na Educação Básica CNPq/UERN; Membro do Grupo de Pesquisa: Fenomenologia, Hermenêutica e Mí­stica CNPq/UERN e do Núcleo de Estudo e pesquisa em filosofia medieval - PRINCIPIUM (UEPB/Campina Grande-PB); é um dos editores da Revista Trilhas Filosóficas. Atua na área da Filosofia, com ênfase em História da Filosofia Medieval e metafí­sica. Atua também na formação de professores supervisionando estágios curriculares obrigatórios no Curso de Licenciatura em Filosofia e no PROF-FILO, Campus Caicó da UERN.

Jeniffer Lopes Batista, UERN

Graduada em Filosofia (Curso de Filosofia, Campus Caicó-CaC, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN.

Downloads

Publicado

2019-10-24

Como Citar

TEIXEIRA NETO, J.; BATISTA, J. L. "Conduzir pela mão" e o ensino-aprendizagem de filosofia: uma perspectiva a partir de Nicolau de Cusa (1401-1464). Trilhas Filosóficas, [S. l.], v. 12, n. 1, p. 99–123, 2019. DOI: 10.25244/tf.v12i1.27. Disponível em: https://periodicos.apps.uern.br/index.php/RTF/article/view/27. Acesso em: 22 dez. 2024.

Edição

Seção

DOSSIÊ INTRODUÇíO À FILOSOFIA E FILOSOFIA DO ENSINO DE FILOSOFIA