Concursos públicos para professor de língua portuguesa: obstáculo ao reconhecimento do saber científico e crítico sobre a linguagem
DOI:
https://doi.org/10.22297/2316-17952025v14e02521Palavras-chave:
Formação Profissional, Linguística, Linguística Popular, Gramática Tradicional.Resumo
Neste trabalho, objetivamos analisar a configuração do conhecimento sobre a linguagem nas provas de três concursos públicos para professor de Língua Portuguesa, realizados em 2025, no estado do Rio Grande do Norte: o da Prefeitura de Natal, o do Estado do Rio Grande do Norte e o do Instituto Federal do Rio Grande do Norte. Essa análise está circunstanciada em dois fatos: o de que a linguagem é um objeto complexo e heterogêneo e, consequentemente, produzir conhecimento sobre ela passa necessariamente por um ângulo ou ponto de vista, e o de que as Diretrizes Curriculares do Curso de Letras definem que o perfil do(a) profissional deve apresentar sólida formação linguística. Constatamos, na observação de questões que exploram análise, descrição e explicação de um fato linguístico, a ausência de enquadramento teórico explícito no tratamento dos temas, uma forte predominância de temas centrados na estrutura da língua e, em especial, baseados no conhecimento tradicional (representado pela Gramática Tradicional), e o escasso espaço destinado a outros aspectos que compõem a linguagem, como os relacionados ao ato linguístico e às práticas situadas. Essas constatações evidenciam o apagamento das características do conhecimento sobre a linguagem e da legitimidade da Linguística como campo científico, e a cristalização de uma visão reducionista sobre as formas de construção de saber sobre a linguagem. Nesse sentido, esses concursos, na qualidade de política de avaliação profissional, constituem um obstáculo ao reconhecimento do saber científico e crítico sobre a linguagem.
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