As marcas do estigma: uma análise dialógica do conto “Linda, uma história horrível”, de Caio Fernando Abreu
DOI:
https://doi.org/10.22297/2316-17952023v12e02309Palavras-chave:
Conto, Dialogismo, Estima, Vozes sociais, (In)completudeResumo
Este estudo tem como objetivo realizar uma análise sobre as relações entre as personagens estigmatizadas presentes no conto “Linda, uma história horrível” (1988/2018), de Caio Fernando Abreu, a partir de um roteiro de leitura proposto para o Ensino Médio. O autor tem grande destaque na literatura, não só pela escrita escancarada, mas também pela sua capacidade de tornar visíveis, em sua obra, personagens marginalizados pela sociedade, além de construí-los capazes de rumorar e confundir tanto a sociedade quanto os sujeitos que estão dispostos a tornar essas personagens desviantes do que é pleno e socialmente aceito. Para tanto, são analisados personagens, discursos e conflitos, com o intuito de apontar como as marcas estigmatizantes surgem na sociedade e deterioram a identidade dos que por elas são afetados. Tomamos como pano de fundo teórico os estudos sobre o dialogismo e os conceitos de discurso e vozes sociais de Mikhail Bakhtin (2010; 2011; 2016), e o conceito de estigma abordado por Erving Goffman (1963/2017), a fim de possibilitar uma análise do conto a partir da proposta de um roteiro de leitura para o Ensino Médio. Metodologicamente, nosso estudo tem um caráter bibliográfico com abordagem qualitativa e natureza descritiva-interpretativa, partindo do método dialógico. Com base disso, averiguamos, analiticamente, de que maneira os diálogos entre as personagens do conto caracterizam-nas como seres deteriorados, e como os discursos ideológicos, presentes nessa interação, interferem no processo de estigmatização das personagens na obra. Os resultados apontam que a maneira como as personagens são construídas e caracterizadas inclinam para estereótipos hostilizados e mantidos dentro de uma jaula, sob a contenção de identidades deterioradas, projetando corpos renegados e vozes silenciadas por estigmas sociais. Portanto, a pesquisa aponta para uma leitura contendo narrador e personagens transgressoras das convenções sociais em busca de liberdade, provocando no leitor uma inquietação social frente à (in)completude da obra analisada.
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