Usos da construção "é pra" na fala de trabalhadores rurais do Alto Oeste Potiguar
DOI:
https://doi.org/10.22297/2316-17952020v09e02009Palavras-chave:
Linguística Sistêmico-Funcional, Análise da modalidade oral da língua portuguesa, Usos da construção "é pra"Resumo
Este artigo objetiva analisar os usos da construção "é pra" na língua portuguesa, a partir da fala de trabalhadores rurais do alto-oeste potiguar. Para tanto, coletamos amostras do uso dessa construção em um corpus de língua oral do Museu de Cultura Sertaneja (MCS), que consiste na transcrição de entrevistas realizadas em um projeto que investigava memórias dos engenhos e casas de farinha da região. O exame das amostras foi fundamentado teoricamente na Linguística Sistêmico-Funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014). A abordagem metodológica adotada foi a perspectiva sistêmico-complexa (MENDES, 2018). As análises mostram o caráter polissêmico da construção "é pra", sendo possível identificar diversos empregos comunicativos distintos, dentre os quais prevalecem como mais recorrentes as funções de (i) definição da funcionalidade de uma entidade concreta, (ii) estabelecimento de relação lógica de Propósito em uma sequência de atividades, e (iii) modulação de comandos. Na função de definir uma entidade concreta, a construção "é pra" permite aos informantes transmitir ao público leigo definições de instrumentos e cargos funcionais específicos dos engenhos e casas de farinha. Na construção de sequências de atividades, a construção "é pra" funciona como marcador de junção que estabelece relação lógica de Propósito entre figuras em um complexo oracional, ou entre figuras que estão em porções distantes do texto e até mesmo em turnos de fala diferentes. O uso da construção "é pra", enquanto modulador de comandos, possibilita ao falante marcar um grau alto de obrigação/proibição, além de exprimir seu posicionamento crítico em relação a um dado estado de coisas.
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Referências
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