O dispositivo microprotético DIU e seu regime tecnobiodiscursivo: discursos das e sobre as mulheres cisgênero adeptas ao DIU
DOI:
https://doi.org/10.22297/2316-17952023v12e02326Palavras-chave:
Biopolítica, Tecnobiodiscursos, Dispositivo microprotético DIUResumo
Neste artigo, discorre-se sobre parte de uma reflexão que compõe a dissertação defendida em 2021, Relatos de segunda-feira: os discursos sobre as/das mulheres cisgênero e o dispositivo microprotético DIU. O objetivo da pesquisa, sob a mirada da arqueogenealogia foucaultiana, articulada à biopolítica agentiva de Paul Preciado (2018), aos escritos de Takeshita (2012) e a estudos feministas e de gênero, foi analisar os discursos sobre as e das mulheres que inseriram (ou que pretendem inserir ou que tentaram e não conseguiram) o Dispositivo Intrauterino (DIU) de cobre. Dá-se, aqui, especial atenção à análise de entrevistas semiestruturadas realizadas com cinco mulheres autodeclaradas cisgênero, especificamente as regularidades discursivas: (i) sobre “ser mulher”; (ii) sobre a resistência ao controle microfísico da pílula e o desejo pelo dispositivo liberógeno DIU; (iii) sobre as relações sociais e familiares como parte do funcionamento do dispositivo DIU; e (iv) sobre como médicos e a enfermagem operam no controle e na subjetivação do corpo das mulheres. Apontando-se as regularidades discursivas, defende-se o funcionamento do dispositivo microprotético DIU, que, em agonística, tanto está alçado a efeitos de liberdade, de natureza e de empoderamento às mulheres que o utilizam (ou que o desejam); quanto produz, nelas e sobre elas, marcas de objetivação e de subjetivação que forjam corporalidades tecno-orgânicas e tecnobiodiscursivas, instauradas pela era farmacopornográfica.
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