Discurso político de Lula: o papel do marcador "não" na construção da persona textual
DOI:
https://doi.org/10.22297/2316-17952020v09e02007Palavras-chave:
Sistema de Avaliatividade, Negação, Discurso PolíticoResumo
Ao produzirmos significados, nos vários contextos nos quais nos encontramos, estamos sempre avaliando o mundo ao nosso redor. Recursos linguísticos como o marcador negativo "não", indicador de polaridade negativa (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014), constituem, para Martin e White (2005), um item léxico-gramatical com potencial semântico altamente avaliativo. Com este trabalho, objetivamos localizar, analisar e categorizar o uso do marcador negativo "não" em relação ao seu uso em contexto político e entender qual seu papel na construção da persona textual. O corpus constitui-se de um discurso de Lula proferido ao visitar o Retiro de Itaici, na assembleia do Conselho Nacional de Bispos do Brasil. Nesse discurso, Lula recorreu ao "não" 75 vezes, sendo o elemento léxico-gramatical mais recorrente no texto. A partir desses dados e através dos estudos sobre o fenômeno de negação, em Halliday e Matthiessen (2014), Martin e White (2005), Tottie (1987) e Pagano (1994), foi possível delinear quatro tipos de negação por meio do uso funcional do marcador negativo "não": quando o locus de negação é a oração projetante, Lula recorre à negação direta/proposicional ou à transferida/modal; quando o locus de negação é a oração projetada, Lula recorre ou à direta/proposicional, transferida/modal ou à gradual. Os resultados indicam que o uso intenso da negação é a tentativa de invalidação que o então novo presidente faz dos atos dos governos anteriores ao seu. A persona textual e o ethos também são apresentados enquanto conhecedores dos problemas e das condições das áreas sociais e econômicas da sociedade.
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