Sentidos de ‘normal’/’anormal’ em circulação: o diferente como caução argumentativa
DOI:
https://doi.org/10.22297/2316-17952022v11e02201Palavras-chave:
Semântica., Acontecimento., Reescrituração.Resumo
Neste artigo, filiados à Semântica do Acontecimento, elaborada por Eduardo Guimarães (2002; 2005; 2018), que considera que os sentidos são constituídos no enunciado, na relação de uma palavra com outra, analisamos a designação das palavras ‘normal’/‘anormal’ em um arquivo constituído por nove textos midiáticos de circulação no Brasil, publicados no período de 2000 a 2019, nos quais as palavras ‘normal’/‘anormal’ constam de suas formulações. O interesse de reflexão sobre o par de palavras (‘normal’/‘anormal’) encontra-se em compreender como os seus sentidos se constituem nos enunciados nos quais elas comparecem como qualitativo de ser humano, e de que forma esses sentidos dialogam com a historicidade dos sentidos de ‘normalidade’. Os sentidos de tais palavras têm ganhado o cotidiano do brasileiro para designar diversas práticas, comportamentos, ideias, ações etc. Portanto, investigamos como o ‘normal’/‘anormal’ significa e faz significar o diferente como caução argumentativa de certas práticas segregacionistas. Essa análise mostra como o político atravessa a língua no acontecimento da enunciação, fazendo significar uma divisão desigual do real, na qual os sentidos de ‘normal’ caucionam argumentativamente essa divisão. Essa divisão funciona determinando como o enunciado pode e deve incluir certos sentidos e excluir outros. É assim que um enunciado concorre por espaço com outro(s) enunciado(s), instaurando uma disputa por significar. Em decorrência da constituição política do enunciado, analisamos a historicidade da palavra ‘normal’/’anormal’, para compreender de que forma sua significação é interpelada por questões políticas de poder dizer.
Downloads
Referências
ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos do estado: nota sobre aparelhos ideológicos do Estado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.
ARIAS, J. Meu marido me bate dentro do normal. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/17/opinion/1447717929_384600.html> Acesso em: 15 fev. 2019.
CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
BARRAGÁN, A. Entrevista de bolsonaro a Ellen Page sobre homofobia viraliza no exterior. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/12/actualidad/1539377107_313676.html Acesso em: 05 fev. 2019.
BRUM, E. Os loucos, os normais e o Estado Disponível em: https://www.geledes.org.br/os-loucos-os-normais-e-o-estado-por-eliane-brum/. Acesso em: 21 fev. 2019.
Folha de São Paulo. É anormal que o apelo ao antifacismo seja tido como impróprio’ diz leitor. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2018/10/e-anormal-que-o-apelo-ao-antifascismo-seja-tido-como-improprio-diz-leitor.shtml Acesso em: 5 fev.2019.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 42. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
G1 Brasília. Bolsonaro diz ao JN que criminoso não é ‘ser humano normal’ e defende policial que ‘matar 10, 15 ou 20’. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/08/28/bolsonaro-diz-ao-jn-que-criminoso-nao-e-ser-humano-normal-e-defende-policial-que-matar-10-15-ou-20.ghtml Acesso em: 02 fev. 2019.
GUIMARÃES, E. Domínio semântico de determinação. In: GUIMARÃES, E; MOLLICA, M. C. (org.). A palavra: forma e sentido. Campinas, SP: Pontes Editores, 2007. p. 77-96.
GUIMARÃES, E. Semântica do acontecimento: um estudo enunciativo da designação. 2. ed. Campinas, SP: Pontes, 2005.
GUIMARÃES, E. Análise de texto: um estudo enunciativo. Conferência na 60ª. Reunião Anual da SBPC, Campinas: Unicamp, 2008. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/60ra/textos/CO-EduardoGuimaraes.pdf Acesso em: 09 dez. 2019.
GUIMARÃES, E. Textualidade e enunciação. Campinas: Escritos, n. 2, 1998.
IG São Paulo. Esfaqueador de Bolsonaro “não era normal”, diz familiar de agressor. Disponível em: https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2018-09-07/esfaqueador-de-bolsonaro-mg.html Acesso em: 24 fev. 2019.
MISKOLCI, R. Reflexões sobre normalidade e desvio social. Estudos de Sociologia, v. 13/14. p. 109-126, 2002/2003.
OLIVEIRA, S. E. de. Cidadania: história e política de uma palavra. Campinas: Pontes Editores, RG Editores, 2006.
PÊCHEUX, M. [1977] As massas populares são um objeto inanimado? In: Análise de discurso: Michel Pêcheux. Textos selecionados por Eni Puccinelli Orlandi. Campinas: Pontes, 2011.
ROCHA, M. A loucura de cada um. Não paginado. 2018. Disponível em: https://www.gazetaonline.com.br/bem_estar_e_saude/revista_ag/2018/10/a-loucura-de-cada-um-1014152144.html Acesso em: 06 fev. 2019.
SANZ, J. C. Não me deixavam viver uma vida normal, por isso escolhi a resistência à ocupação. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/08/02/internacional/1533229530_063403.html Acesso em: 23 fev. 2019.
VELOSO, A. M. Afinal, o que é ser normal? Disponível em: https://www.huffpostbrasil.com/2016/05/18/afinal-o-que-e-ser-normal_a_21682428/ Acesso em 25 fev. 2019.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Diálogo das Letras
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
A Diálogo das Letras não se responsabiliza por conceitos e opiniões emitidos pelos autores, tampouco manifesta, necessariamente, concordância com posições assumidas nos textos publicados. Além disso, os dados e a exatidão das referências citadas no trabalho são de inteira responsabilidade do(s) autor(es). Ao submeterem seus trabalhos, os autores concordam que os direitos autorais referentes a cada texto estão sendo cedidos para a revista Diálogo das Letras; ainda concordam que assumem as responsabilidades legais relativas às informações emitidas.